O Papel do Terapeuta Ocupacional no Tratamento do Idoso

Regulamentada em 1969, a Terapia Ocupacional deixou de ser vista apenas como uma profissão técnica e passou a ser reconhecida como uma atividade científica na área de saúde. Em 1975 foram criados os conselhos Federal e Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional. A Terapia Ocupacional é uma profissão que tem por objetivo avaliar, planejar, prescrever condutas terapêuticas, a fim de possibilitar uma melhor qualidade de vida ao indivíduo.

Para se conhecer melhor o exercício profissional do Terapeuta Ocupacional, podemos citar, dentre várias resoluções da legislação, a resolução COFFITO-81 (Atos complementares à resolução COFFITO-8):

- Considerando que a terapia ocupacional é uma ciência aplicada que tem como objetivo de estudos a cinética do homem e sua relação com atividades ocupacionais, em todas as suas formas de expressão, quer nos seus desvios patológicos, quer nas suas repercussões psíquicas e orgânicas, tendo como meta restaurar a capacidade físico-mental do indivíduo;
-Considerando que como processo terapêutico, lança mão de conhecimentos e recursos próprios, com os quais, em razão das condições psico-físico-social busca promover ou adaptar, através de uma relação terapêutica-ocupacional, o indivíduo a uma melhor qualidade de vida;
-Considerando que por sua formação acadêmico profissional e conhecimento desta ciência, pode o TERAPEUTA OCUPACIONAL atuar juntamente com outros profissionais nos diversos níveis de assistência à Saúde, na administração de serviços, na área educacional e no desenvolvimento de pesquisas; ... (COFFITO-81, 2000, p.68)

Aprofundando cada vez mais o conhecimento da Terapia Ocupacional, podemos dizer com muita clareza, que a ferramenta de trabalho usada é a atividade humana, em suas múltiplas formas, que exala aspirações, vontades, anseios e tem a capacidade de criar, recriar e transformar.

O grande trunfo da Terapia Ocupacional na utilização da atividade humana enquanto recurso terapêutico é a análise da atividade. Através da análise de suas potencialidades pretende-se saber o que a atividade pode fornecer enquanto terapia para melhor atender as necessidades do indivíduo.

A autora Berenice Rosa, afirma que as atividades podem ser complexas, e só sua análise permitirá detalhar suas etapas e visualizar o que o paciente deve ou não realizar.

Dada essa visão inicial sobre o objetivo e papel geral da Terapia Ocupacional, abordaremos agora os aspectos específicos da atuação do Terapeuta Ocupacional na área da geriatria e Gerontologia.

Observe-se a atuação do Terapeuta Ocupacional nas demências, Doença de Parkinson, doenças reumatológicas, acidente vascular encefálico, entre outras. Tendo esse profissional um papel essencial no processo de reabilitação, ou seja, da melhora do idoso nos aspectos físicos, mentais e sociais.

O tratamento tem como objetivo, melhorar e/ou manter a qualidade de vida do idoso, promovendo saúde, bem estar e proporcionando uma maior independência e autonomia em seu dia-a dia.

Quando iniciamos um tratamento, no primeiro momento precisamos colher informações sobre o paciente, neste caso o idoso, através de uma avaliação, que nos permitirá conhecer melhor esse indivíduo em seus aspectos físicos, mentais, sociais e culturais. O terapeuta obterá informações que permitirão a montagem dos objetivos e programas de tratamento. É importante ressaltar que esta avaliação nos dará um conhecimento geral do paciente, embora o mais importante seja a coleta de informações durante os atendimentos, através das observações e da análise que o terapeuta fará durante as consultas. Com isso, o processo será acompanhado de maneira mais detalhada.

Nesta avaliação obteremos informações tais como:

  • Nome, idade, data de nascimento, profissão, escolaridade, endereço, estado civil, se tem filhos, telefone, nome do médico responsável;
  • Queixa principal;
  • Exame motor (equilíbrio, coordenaçáo, força muscular, resistência e outros);
  • Exames das funções sensório-percepto-cognitivas (esquema e imagem corporal, orientação espacial e temporal, lateralidade, figura - fundo, reconhecimento de cores e formas);
  • Aspectos emocionais;
  • Condições sócio-ambientais;
  • Se realiza as atividades da vida diária (vestuário, higiene pessoal, alimentação), e as atividades da vida prática (se usa o telefone, faz compras, toma remédio), observando o nível de dependência e independência;
  • Atividades de lazer de que mais gosta (se realiza ou já realizou).

Todas essas perguntas fornecerão subsídios para analisarmos o paciente, conhecendo suas habilidades e limitações.

Uma dica interessante é deixar sempre o idoso responder primeiro as perguntas. Assim estaremos analisando o comportamento, se há perda de memória, desorientação temporal, espacial etc. Mas se o idoso apresentar dificuldades para responder, é importante que ele esteja acompanhado de um familiar ou cuidador para obtermos as informações corretas que subsidiarão as avaliações a serem realizadas pelo terapeuta ocupacional.

Além disso, é fundamental que o profissional tenha como regra básica, saber escutar o idoso, prestar atenção a seus relatos - sejam bons ou ruins - e anotar todas as informações relativas ao convívio com a família, como, por exemplo, se existe o sentimento de abandono, ocorrência de mortes de parentes mais próximos, como é o caso específico de viuvez. Importante também verificar a existência de angústia, medos, solidão, tristeza etc. Todos estes elementos são essenciais para formular um retrato, o mais próximo possível do perfil emocional em que se encontra o idoso nesse momento.

Um outro elemento facilitador, com benefícios em prol do idoso, é a consciência da importância do trabalho interdisciplinar entre os distintos profissionais, compartilhando informações, possibilitando um tratamento mais coordenado e unificado, levando a resultados mais satisfatórios no tratamento do paciente.

A avaliação quanto as atividades da vida diária e da vida prática será de suma importância para avaliarmos o nível de independência funcional em que o indivíduo se encontra. As doenças podem trazer complicações físicas, emocionais e cognitivas e, com isso, podem originar danos à independência funcional. Portanto, é importante que a intervenção do Terapeuta Ocupacional seja feita de início para que o tratamento possa ser mais eficaz, melhorando ou retardando o processo da doença, prevenindo assim, complicações futuras. Pode-se citar o exemplo da Doença de Parkinson que é uma doença crônica e progressiva, onde o indivíduo perderá, com o tempo, sua independência funcional em virtude de sintomas como: tremor, bradiscinesia, rigidez muscular e desequilíbrio postural que, ao longo dos anos, vão se tornando mais intensos. O Terapeuta Ocupacional irá intervir, utilizando as atividades como recurso terapêutico para a melhora do desempenho nas atividades do cotidiano. EIe irá trabalhar, por exemplo a coordenação motora fina com atividades que requerem o uso da preensão fina, possibilitando a melhora do parkinsoniano ao fazer uma atividade do cotidiano que necessite da coordenação fina. Como exemplo catar feijão, abotoar a roupa, amarrar o cadarço e outras.

No caso de um paciente que já se encontra em um quadro mais avançado da doença e apresente dificuldades maiores nas demais atividades da vida diária, o Terapeuta Ocupacional utilizará adaptações no ambiente domiciliar como: barras de apoio no banheiro, no corredor, nas escadas, pisos antiderrapantes, disposição dos móveis na sala e no quarto facilitando a passagem do indivíduo. Fará uso de órteses nos utensílios, por exemplo, engrossando e/ou aumentando os cabos dos talheres, possibilitando assim a melhora da independência do indivíduo e proporcionando segurança, conforto, bem estar pessoal no domicílio. Estas adaptações, além de auxiliarem no desempenho das tarefas domiciliares, previnem complicações maiores como traumatismos decorrentes de quedas.

Para adaptar o meio domiciliar, o Terapcuta Ocupacional deve fazer uma avaliação do domicílio, observando as condições sócio econômicas para ver que tipo de material poderá ser indicado. Quando o domicílio é avaliado torna-se fundamental observar a performance do paciente na execução ou na tentativa de executar as tarefas da vida diária, dando possibilidade ao terapeuta de elaborar o melhor tipo de adaptação para a execução da atividade.

O Terapeuta Ocupacional orientará a família de maneira que ela passe a incentivar o indivíduo a exercer suas atividades da vida diária, pois sabe-se que as vezes é mais fácil a família ou o cuidador executarem as tarefas pelo paciente porque se perde menos tempo, mas em compensação, acaba-se diminuindo a atividade funcional do mesmo e tornando-o mais dependente.

As atividades da vida diária e da vida prática também serão trabalhadas nas doenças que apresentam distúrbios cognitivos, como no caso da demência. A utilização do recurso da alimentação, por exemplo, estimula a utilização da memória, da compreensão, da atenção, da orientação por parte do paciente. Exemplo: ao comermos um bolo a seqüência seria

Pegar a faca ⇒ cortar o bolo ⇒ colocá-lo em um prato ⇒ pegar o garfo ⇒ cortar o bolo ⇒ levá-lo a boca

Observe quantas informações nós mandamos para o nosso cérebro e a quantidade de sinapses que ocorreram com essa atividade. Podemos perceber quantas funções cerebrais foram estimuladas, como a memória, a atenção, concentração, orientação espacial, visão, paladar, coordenação motora, preensão e outras.

É importante sabermos com quem este idoso vive, para orientarmos esta família e/ou cuidador de maneira adequada, garantindo assim a segurança e a continuidade da estimulação do idoso em casa. Essas orientações podem ser do tipo:

  • Mesmo estando no início da demência, nunca deixe o idoso sozinho em casa, evitando que ele se tranque no banheiro, ligue o gás e esqueça-o aceso ou que ocorra uma queda e não tenha ninguém para socorrê-lo.
  • Para que o idoso demenciado se oriente em uma casa, escreva o nome de cada cômodo da casa em um papel ou madeira e coloque nos devidos lugares, por exemplo, colar a palavra “banheiro” na porta do banheiro, ”cozinha” na porta da cozinha.
  • Na hora de arrumar o quarto, peça-lhe para ajudar, dando uma tarefa de cada vez, é claro que cada pessoa terá o seu limite, alguns conseguirão fazer só com o pedido, outros vão precisar ver a execução e outros precisarão da ajuda em todo momento da execução da tarefa, por exemplo, arrumar a cama.

Quando trabalhamos com idosos, temos que nos preocupar como esse indivíduo interage no meio social. Se ele tem contato com amigos, vizinhos, comunidade, pois a socialização é um grande requisito para uma boa qualidade de vida psíquica. É importante que o idoso ocupe seu tempo livre de forma significativa, pois assim a inatividade não estará presente em sua vida, e os problemas como tristeza, depressão, solidão, poderão ser trabalhados e até vencidos. As atividades serão meios de trazer o idoso à convivência social, ao mesmo tempo estimulando toda a parte cognitiva (memória, atenção, compreensão, orientação temporal e espacial, raciocínio), física (amplitude de movimento, equilíbrio, preensão, força, resistência) e emocional, passando assim a melhorar sua auto-estima. Essas atividades devem proporcionar ao idoso satisfação e prazer, para que a atividade produza um resultado satisfatório.

O terapeuta ocupacional trabalha para melhor reestruturar e redistribuir o tempo Iivre do idoso, de forma saudável e criativa. Sua atuação objetiva levar o idoso a perceber a qualidade da utilização do seu tempo, possibilitando a definição de novos padrões de atividades e o reconhecimento da importância de ter um tempo só para si. (Balbi, 2002, p.21).

O Terapeuta Ocupacional analisará as atividades, avaliando todo o processo terapêutico.
Essas atividades podem ser:

  • Socializantes;
  • Lazer;
  • Cultural;
  • Reminiscência;
  • Físicas.

Algumas atividades:

  • Festivas;
  • Jogos;
  • Artesanais;
  • Expressivas;
  • Jardinagem;
  • Músicas. 

Em suma, a Terapia Ocupacional é a ciência que estuda o fazer humano e utiliza a atividade como recurso terapêutico.

No caso do tratamento dos idosos, a importância da Terapia Ocupacional é fornecer subsídios que proporcionem uma melhor qualidade de vida, promovendo uma vida com maior independência, satisfação, bem estar físico e mental, tendo sempre em mente a importância da interdisciplinaridade, como elemento fundamental nesse processo.

BIBLIOGRAFIA

BALBI, Soraya Porto. Uma Visão da Terapia Ocupacional em Relação aos Aspectos Sociais do Envelhecimento Saudável. Niterói, 2002 (Monografia de conclusão de curso de Terapia Ocupacional pela escola Superior de Ensino Helena Antipoff).

FERNANDES, Marília Bernardes. Projeto de Terapia Ocupacional em Geriatria para o Abrigo Cristo Redentor. Niterói, 2000.

FRANCISCO, Berenice Rosa. Terapia Ocupacional. Campinas. São Paulo: Papirus, 1988.

FREITAS, Elizabete Viana, et al. Tratado de Geriatria e Gerontologia. Rio de Janeiro: Ed. Guanabara Koogan, 2002.

Legislação da Fisioterapia e da Terapia Ocupacional / Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia ocupacional 2ª Região - Rio de Janeiro / Espírito Santo. 2ª edição, 2000.

SIMÕES, Denise de Moraes. Adaptações Domiciliares para Pacientes com Mal de Parkinson: Uma proposta em Terapia Ocupacional. Niterói, 2002. (Monografia de conclusão de curso de Terapia Ocupacional pela Escola Superior de Ensino Helena Antipoff).

VAZ, Lisete Ribeiro, et al. Terapia Ocupacional: A Paixão de Imaginar com as Mãos. Rio de Janeiro: Ed. Cultura Médica, 1993.

VIEIRA, Eliane Brandão. Manual de Gerontologia: Um Guia Teórico-Prático para Profissionais, Cuidadores e Familiares. Rio de Janeiro: Ed. Revinter, 1997.

Denise Simões - Terapeuta ocupacional
O Papel do Terapeuta Ocupacional no Tratamento do Idoso

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